» » » MINHAS EXPERIÊNCIAS NA VIDA PASTORAL


Quando o pastor me entregou pela primeira vez as chaves da igreja que eu iria dirigir, me pediu para prestar bastante atenção no que iria me dizer, e que este alerta serviria para toda a minha jornada pastoral. E mandou: "-O que eu vou te falar, pode te assustar agora, mas o tempo e a sua experiência vão fazer você concordar comigo. Você não terá problemas de perseguição, calúnias, impropérios contra a sua pessoa, com católicos, espíritas, ateus, e ninguém de nenhuma outra religião. Os seus maiores problemas, a partir de agora, serão com alguns de nossos colegas pastores. Guarde este conselho, para que você não se assuste, e não pense em abandonar tudo".
 
Agradeci o alerta, e meditei no que o pastor me avisou, como sempre procurei ouvir atentamente o que ele me alertava. Mas pra ser sincero, no fundo mesmo eu não imaginava ser algo tão dramático, tão aterrorizador como parecia ser o alerta do meu querido pastor. Ele me avisava com os olhos arregalados, preocupado comigo. Em minha reflexão, pensei: "-Coitado do meu pastor...foram tantos anos de luta e perseguição, que agora ele está mais traumatizado, um tanto magoado. Deve ter me dito isso para eu não me envolver com outro ministério e acabar um dia mudando".
 
Iniciei os cultos na congregação, e no primeiro mês tudo me pareceu normal. Não esqueci o alerta, que para mim serviria em outro tipo de problema, alguma luta passageira, ou um falso pastor que surgisse e logo desaparecesse, coisas assim. Resolvi reunir a igreja para realizar uma festa, e no computador, fiz as cartas para convidar congregações vizinhas. Assinei e pedi a um diácono para, com tempo, entregar nas igrejas, ou em mãos aos pastores e dirigentes que conhecesse. Renovei a estética da congregação. Eliminei os antigos bancos de madeira, velhos, rabiscados, por cadeiras de plástico. Pintura nova, cortina nova, caixa de som nova, microfones novos... Tudo ok.
 
No dia da festa, pedi que duas jovens, com pranchetas, anotassem os dados dos visitantes. Pedi também a igreja que não deixassem nossos visitantes de pé, e dessem o lugar a eles. Tudo certo. Tudo ótimo! Algumas igrejas que convidei, de longe, vieram, ou enviaram grupos, alguns do ministério, etc. Como tenho muitos amigos pastores, mas de igrejas longe dali, alguns que fizeram seminário comigo, vieram com a família. Um número razoável de visitantes. Mas um detalhe: de nenhuma igreja local se fez presente sequer 1 (um) irmão! O evento foi num sábado, dia que dificilmente há culto oficial em igrejas, o que justificaria a ausência da maioria dos convidados. Mas, mesmo que fosse em algum dia útil da semana, seria muita coincidência uma dezena de igrejas terem seus cultos naquele mesmo dia, ou realizarem eventos naquela mesma data. Perguntei ao diácono e ele me disse que entregou as cartas nas igrejas e em mãos de alguns dirigentes. Chegou até a visitar alguns cultos e viu a carta ser lida no final.
 
Durante todo o culto, apenas uma pessoa, que era de uma igreja da redondeza, ficou em pé na porta, e não quis entrar. Estava de paletó e gravata. Olhava todo o tempo para o meio da igreja, como se procurasse por alguém. Mesmo com insistência da recepção ele não quis entrar e ficava o tempo todo de semblante fechado, de cara feia mesmo, e reparando com ar de espanto para cada grupo de visitantes que chegava. No meio do culto ele foi embora. Missão cumprida. Ninguém da igreja dele estava ali.
 
O conselho do meu pastor era tão vivo quanto os acontecimentos que sucederiam a cada mês, a cada ano dirigindo a congregação. Uma irmã, de uma dessas igrejas vizinhas, nos visitou em outra ocasião, num culto durante a semana, e foi suspensa do grupo de louvor por um mês. "-Você foi na igreja daquele cara ali?" - Gritou o pastor com dela. Isso ela nos contou um ano depois de ter se desligado de lá, ela e um monte de membros, após o pastor levar um soco no meio da igreja, de um homem que ele não pagava as dívidas da transação de um carro.
 
Fico tentando compreender o que há na cabeça de alguns destes pastores. Porque agem desta forma se temos um Deus que pode todas as coisas?! Porque tamanha e tão clara insegurança com relação a membresia da igreja, como se as ovelhas fossem um produto negociável, que pode escapar das mãos "se der bobeira", como alguns chegam a dizer. Porque tanta malícia, ódio, no coração de quem está a frente de uma igreja? Com certeza que não devemos ser ingênuos. Eu sei que pastor de verdade sofre muito. Sofre mesmo! Não estou afirmando isso para não parecer tão crítico. Pastor chora muito. Fica calejado de pedradas, calúnias, etc....
 
Um pastor se reserva ao direito de aconselhar uma ovelha, caso perceba que ela esteja se deslocando para um lugar que a desvie da diretriz que Deus tem em sua vida. E pastor sempre tem experiência de sobra para aconselhar a sua ovelha se ela está se metendo em algo errado. Mas estas experiências não podem transformá-lo num preconceituoso, inseguro, invejoso, com o coração cheio de ódio, esquecendo-se da Palavra que nos diz: "Oh quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união"(Salmo 133:1) Talvez este versículo lhe seja doce aos lábios quando as outras pessoas visitam a igreja dele. Que ao invés de orar e confiar seus problemas nas mãos do Senhor, como ele mesmo aconselha, escala obreiros para vigiar se algum de seus membros foram visitar outras igrejas. Atitudes estas, que não identificam alguém que se auto denomina, via de regra, "ungido de Deus".
 
"Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, não por força, 
mas espontaneamente segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, 
mas de boa vontade. Nem como dominadores sobre os que vos foram confiados, 
mas servindo de exemplo ao rebanho"(1º Pedro 5:2,3)

Denis de Oliveira é pastor da Assembleia de Deus, Ministério Poder de Deus, RJ

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